DIABA: AS SEMIOSFERAS DO COTIDIANO DAS TRAVESTIS BRASILEIRAS
Resumo
O presente artigo buscou analisar o videoclipe Diaba, da cantora Urias, lançado em agosto de 2019. O estudo foi feito por meio de uma pesquisa qualitativa que recorreu à revisão bibliográfica realizada sob o viés teórico-metodológico da Semiótica da Cultura (SC), oriunda da Escola de Tártu-Moscou, a fim de aplicar à obra os principais conceitos da SC, que são brevemente descritos no texto; essencialmente o de semiosfera, espaço semiótico dotado de centro, periferia e fronteira. No videoclipe a cantora, mulher transexual[1], interpreta, além de sua vivência, a das travestis[2], objetivando retratar realidades comuns à maioria das travestis no Brasil. É dada ênfase crítica à religião e a seus parâmetros excludentes como sistemas modelizantes da cultura brasileira que rejeita a semiosfera travesti. Explorando aspectos linguísticos, sociais, culturais e políticos do videoclipe musical, a análise semiótica realizada evidencia críticas e denúncias sociais e culturais presentes nessa produção artística.
[1] A mulher transexual é caracterizada como aquela que requer a identidade social e/ou legal como mulher, da mesma forma é o homem trans com a sua identidade (JESUS, 2012).
[2] A travesti, como explica Majore Marchi, organizadora do XVI ENTLAIDS (Encontro Nacional de Travestis e Transexuais), é um gênero de construção feminina, oposto ao biológico (CARVALHO, 2018); contudo, como salienta Pietra Munin (2018), a distinção entre mulheres trans e travestis é uma questão de autoidentificação, mas também social; visto que, em geral, travestis pertencem a uma classe socioeconômica mais baixa em relação a mulheres trans.
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